STATION MAGAZINE: Venus James reflete sobre o Aeriform, carreira, parcerias e muito mais!


Venus James
é um nome que circula a comunidade desde 2015 quando lançou o seu primeiro extended-play, o "Electric Pussy". Desde a sua estréia, a artista acumulou inúmeros feitos e se tornou um dos maiores nomes da atualidade. "Na minha carreira eu busco ir para frente, e não ir pra cima", dispara Venus James em uma entrevista realizada por vídeo-conferência no início de outubro com a Radio Station. 

Assim como a maior parte da humanidade, a cantora passou os últimos meses isolada na sua residência em Brooklyn, New York. Diferente dos demais meros mortais, a Venus James não só finalizou como também lançou um disco durante a pandemia do Covid-19. O "Aeriform" é resultado de dois anos de dedicação, trabalho árduo e muita criatividade. Entre os principais parceiros do quarto álbum de estúdio, James destacou Carmim, Sara, Inui, Caio Carvalho, Beth Thunder, Afrodite Jackson e Jesy German.


O resultado final é um trabalho sólido que já nasce com o sentimento de "atemporal". Venus James não só redefini a sua imagem mais uma vez, como também entrega um dos maiores projetos desse ano tão caótico.



Boa noite, Venus James! É um prazer tê-la aqui conosco. Como vai?


O prazer é meu! Estou bem, obrigado por me receber! 


O single “Imagem” foi lançado na mesma semana que o país entrava em quarentena. Consequentemente, o “Aeriform” foi lançado no meio de um período pandêmico. Você imaginava que o álbum seria lançado em um momento tão atípico?


Uma curiosidade é que dois dias depois que eu lancei o Reverie, o Bolsonaro ganhou a eleição, então acho que sou amaldiçoada! Da próxima vez que eu anunciar algo, se preparem pro pior! Mas brincadeiras a parte, não tem como prever algo de tamanha dimensão acontecer, definitivamente não imaginei.


Diferente das eras anteriores, o “Aeriform” se diferencia pela ausência de videoclipes. Foi proposital focar somente na música durante essa era?


Bom, a música é sempre meu foco, e eu não sou muito hábil na parte visual, mas infelizmente a ausência de vídeos é resultado de falta de tempo, falta de inspiração, falta de motivação e falta de ferramentas para fazê-los. Mas eles vão começar a sair esse mês, se tudo der certo.


É interessante ver como você construiu uma carreira baseada no gênero (e subgêneros) da música alternativa. Apesar disso, como você diferencia a sonoridade do “Aeriform” dos álbuns anteriores?


Eu diria que meus álbuns tem claramente uma matriz musical bem diferente uns dos outros. O Aeriform é mais centrado no R&B alternativo com influência do grime, que é um estilo adjacente do hip-hop. É um estilo mais sintético e mais angular do que os estilos de R&B mais conhecidos. Eu amo R&B e uma das artistas que mais gosto é a Kelela, e ela sempre traz influências diferentes pro R&B, então me inspirei a fazer o mesmo nesse álbum. Sobre as ramificações da "música alternativa" é complicado dizer pois acho esse termo é tão amplo e tão vago, e na era da internet a linha entre pop e alternativo é bem tênue. Mas essa discussão é meio longa então vamos deixar pra outra hora se não vou ficar aqui falando por dias (risos). 


Adoro um verso de Adrift onde você indaga o seguinte: "Você está feliz ou apenas confortável?". Você sempre foi uma compositora incrível, mas acredito que você atingiu um novo pico com esse álbum. Como foi o processo de composição? Você pensa nos temas inicialmente ou eles vão apenas surgindo a medido que você está montando o disco?


Primeiramente, obrigada, essa música significa muito para mim. Compor para mim pode ser bem frustrante às vezes, pois é difícil colocar certas idéias e sentimentos em palavras, eu estou sempre editando e mudando as composições. E não tem jeito de forçar as palavras a saírem, então eu espero as letras surgirem espontaneamente. Eu descreveria o processo criativo como montar um quebra-cabeça sem saber qual é a figura. Eu geralmente tenho uma ideia inicial, mas sempre muda bastante com o decorrer do processo. 




A Sara é a co-compositora de 2 faixas do álbum: Paradise Found e Melhor Parte de Mim. Como surgiu essa parceria? Como foi trabalhar com um nome tão renomado dentro do cenário virtual?


Eu e Sara já trabalhamos juntas desde 2016, acredito que ela é a minha colaboradora mais antiga no RPG atualmente. Somos pessoas bem diferentes, mas trabalhamos super bem juntas. Nós colaboramos nos meus álbuns Chroma e Exodus, e eu co-escrevi 3 faixas no álbum Ruína, mas no Aeriform nossa colaboração aconteceu de forma indireta, na verdade. A Inui descartou algumas faixas de um projeto que ela estava trabalhando, e eu pedi se poderia usar partes das letras, que foram co-escritas pela Sara. A Inui concordou, então re-trabalhei uma das letras em Melhor Parte de Mim, e de última hora eu incorporei parte da outra letra em Paradise Found. Inclusive a Sara só descobriu sobre Paradise Found quando ela ouviu o álbum pela primeira vez, mas ela aprovou o álbum, então fico feliz.


Sua produção também atingiu um novo nível no Aeriform. Suas músicas ganharam camadas repletas de nuances. O álbum todo passa uma sensação de uma viagem transcendental. Você se considera perfeccionista nos seus trabalhos?


Produzir é minha parte favorita do processo, pois é quando a música realmente passa a existir. Eu acredito que passar sua visão num projeto é mais importante do que ser técnica e polida. Gosto mais de substância do que forma, e as vezes sou criticada por isso, já que alguns falam que minhas letras têm "muita informação"... Eu posso ser bem perfeccionista às vezes, mas é importante saber quando parar e reconhecer que algo já está bom o suficiente ou quando algo não vai pra frente, ou então você vai encarar uma grande frustração. O conceito de perfeição é tão amorfo quanto nossas perspectivas.


Você recentemente produziu para a AMALA. Foi a primeira vez que você produziu para um outro artista? É diferente produzir uma música para você mesma e produzir para um outro artista?


Não! Eu produzi algumas faixas do álbum Infame, da Inui e também pro álbum Eletroplasma, da Carmim! Toda música tem um processo diferente, no caso de "Não Pare de Dançar", a Amala já tinha toda a idéia da música pronta, então meu trabalho foi apenas juntar os vocais com a instrumental. Mas com a Inui e Carmim é diferente, nós somos mais próximas e nós sempre trocamos ideias sobre os projetos que nós estamos trabalhando no momento, então de certa forma eu estou mais inserida no processo criativo do projeto. Assim, eu tenho mais liberdade de experimentar coisas novas e colocar mais da minha visão e do meu trabalho na música.


Em “Reverie”, você optou por não incluir nenhum dueto. No entanto, você chamou a Jesy German para participar de uma das músicas do Aeriform. O que a fez mudar de ideia? E como foi trabalhar com a Jesy German? 


O processo criativo do Reverie foi bem introspectivo e insular, então naquele momento não fazia sentido trazer outros artistas para aquela narrativa, mas no Aeriform eu procurei me abrir mais um pouco e chamar outros artistas pro projeto, e desde o início eu queria artistas do Impop para colaborar, e minha primeira opção era a Jesy, admiro ela desde o primeiro single dela. Porém vou queimar ela um pouco aqui (risos). Originalmente ela estaria em outra música no álbum, mas ela me enrolou horrores e acabei desistindo. Bem depois eu fiz uma música de última hora, e chamei a laranja dela... digo, a amiga dela, Afrodite Jackson para participar da faixa, mas como usamos o mesmo vocal, nós concluímos que não poderia ser outra pessoa a não ser a Jesy na faixa. Dessa vez a Jesy topou e não me enrolou, então foi incrível! Ainda quero fazer uma colaboração real com Jesy, visto que ela apenas colocou seus vocais na faixa, e acho que ela é uma artista tremenda e adoraria trocar umas figurinhas criativas com ela.


Falando em colaborações musicais… Você também trabalhou com Thalia e a Sara no começo da sua carreira. Existe algum outro artista que você gostaria de trabalhar?


Eu adoraria trabalhar com a Victoria Dyer, ela é uma verdadeira artista! E acho que eu, o Maicow Reveley e a Hannah Gozzanah deveriamos fazer uma música urgente, seria a colaboração musical familiar mais icônica desde os Jackson 5!



A capa do “Aeriform” foi idealizada por você em parceria com o Caio Carvalho. Poderia nos contar um pouco sobre como foi esse processo?


Foi incrível! A idéia pra capa começou quando vi um desenho de shibari, que é uma técnica sexual japonesa em que se amarram cordas no corpo. Eu mostrei o desenho para um amigo, e logo ele me ajudou a bolar alguns conceitos, tiramos algumas fotos e fizemos alguns testes, e cheguei na idéia da capa, que sou eu suspensa por cordas no céu, sendo o céu representando o etéreo e o paradisíaco, e as cordas representando a repressão e a fisicalidade. A Inui me colocou em contato com o Caio e ele topou de primeira em fazer a capa. Ele foi super atencioso em ouvir minhas idéias e sugestões, e eu também amei as idéias que ele trouxe para capa. Eu não poderia pedir por uma pessoa melhor para fazer a capa, ele é sem dúvidas um artista! E a capa tem um easter egg, se alguém sabe o que é vai ganhar um presente!


As pessoas adoram utilizar o clichê de “most personal album yet”. Existe algum álbum seu que se encaixaria nessa categoria? Talvez até o próprio Aeriform?


O Aeriform é completamente pessoal, mas talvez não tão vulnerável e frágil como o Reverie. Nesse álbum eu toquei em assuntos que eu definitivamente mantinha só para mim, então por enquanto o Reverie ganha esse prêmio. 


Ao longo dos últimos 4 anos, você alcançou o status de uma artista renomada e extremamente premiada. Você acredita que já atingiu o apogeu da sua carreira ou que ainda está caminhando para tal feito?


Bom, não sei se vai fazer sentido, mas na minha carreira eu busco ir para frente, e não ir pra cima. Eu tento buscar o "novo" ao invés do "melhor", pois sempre haverá algo novo, mas nem sempre haverá algo melhor, e também, o que seria o melhor? É algo bem relativo. Eu estou num ponto na minha carreira em que sinto que não preciso provar nada para o público, mas ainda quero provar algumas coisas para mim mesma, trabalhar com elementos que ainda não trabalhei. Resumindo, ainda tenho que o caminhar!



Após o lançamento do “Aeriform”, qual é a próxima cartada da Venus James?


Para esse ano quero continuar focada na era Aeriform, então teremos novos clipes, remixes, performances e tudo mais. Sobre novos projetos, eu queria me multiplicar para conseguir trabalhar em todos os projetos que tenho em mente, mas sou só uma e estou fazendo uma coisa de cada vez. É cedo demais para falar sobre eles, pois ainda estão em sua fase inicial, mas irei revelar que estou co-compondo novamente com a Sara para um projeto de uma pessoa muito especial... isso é tudo que posso dizer!


Agradecemos pelo tempo respondendo as perguntas! É um prazer tê-la na sede da Radio Station! Muito sucesso!


Muito obrigada! Stream Aeriform!



Aeriform, quarto álbum da Venus James, está disponível em todas as plataformas digitais.  Ouça agora no Youtube clicando AQUI.


Fotos por Venus James

Matéria por Circe Carmina Coppola