STATION MAGAZINE: Van Vogue fala sobre novo álbum, perdas, oddcast e muito mais!

  • 09
  • setembro

    2020



Van Vogue é uma artista veterana, presente a 5 anos no oddcast e dona de um catálogo contendo inúmeros hits. Conhecida por experimentar novos gêneros musicais e pela visão estética que apresenta em seus videoclipes, a artista utilizou a quarentena para desenvolver o seu sexto álbum de estúdio, intitulado 'Fortuity', o qual tem lançamento previsto para outubro deste ano.

Inspirado pelo processo de múltiplas perdas em sua vida, Van Vogue teve o desafio de transformar a perda de grandes amigos, um relacionamento não sucedido e a morte de sua mãe em um álbum conceitual. 'Wash Me Away', música escolhida para ser o lead single do disco, é o maior sucesso da cantora desde 'Rodeio', ocupando a segunda posição nos charts.

"Eu tive medo de lançar a música como lead single, por se tratar de uma música vulnerável, é difícil permanecer confiante quando algo é muito diferente do que você já fez", relata Van Vogue, mesmo após anos na indústria com vasta experiência em iniciar um projeto novo e gerar marketing para o trabalho. Engana-se quem pensa que encontrará mais melodias com a doce sonoridade bubblegum bass de 'Wash Me Away'. Seu novo disco é atordoado, obscuro e depressivo. "Sinto que quebrei a válvula da minha mente na concepção deste álbum. Eu sinto que nunca mais farei um álbum pessoal na minha vida".

O ouvinte é introduzido para o universo sombrio de 'Fortuity' já na primeira música; 'Somethings More Painful Than Others', a faixa que abre o projeto, é sobre o sentimento de espera quando tudo em sua vida vai por água abaixo de uma vez só. Em estrofes como 'Eu não quero o romance / Presente nas coisas que não fizemos / Eu não quero me arrepender / Do que eu nunca disse para você', Van Vogue relata de maneira explícita sobre pensar de maneira excessiva em uma situação até encontrar um significado definitivo, ao invés de agir por impulso e tentar suprir o vazio da perda com coisas materiais.


Todo o disco permanece nesta mesma linha de pensamento, onde a artista intercala entre lidar com o sofrimento de maneira saudável e perder a sanidade de vez. Entretanto, os momentos de lucidez no álbum encontram-se quase escassos e são tomadas pela quase sempre insatisfação da Van Vogue com a vida, questionando a si mesma até quando não terá o que deseja. Músicas sobre desilusão amorosa, confusão mental, alcoolismo, abuso de drogas, abuso mental e até mesmo uma música sobre a hospitalidade de sua mãe antes da morte, contendo o áudio do doutor informando que a situação da mesma piorou. "O disco não tem uma storyline. Eu não acho que o processo de cura seja linear. Há momentos em que tomo o controle da situação e outros em que tudo o que eu canto é sobre querer morrer."

Se em 'Wash Me Away' a artista demonstrou estar imersa em um estado de vulnerabilidade, em 'Inundation', segundo single do disco que será lançado dia 26 de outubro, a mesma sabe bem o que quer. Uma faixa de pouco mais de dois minutos com influência eletrônica sobre mandar uma mensagem para alguém dizendo que está com saudades, possui semelhanças com o single 'Raiva De Mim Mesma' na produção e sonoridade, entretanto, a artista demonstra um equilíbrio entre o mainstream e o experimentalismo, com vocais distorcidos no início e no final da canção.



Como você está lidando com estas perdas significativas em sua vida pessoal e de onde veio a ideia de criar um álbum chamado 'por acaso'?

Decidir abraçar a perda ao invés de tentar superá-la é a chave para se abater de qualquer sofrimento psíquico. Pela primeira vez na minha vida eu larguei a mão da minha ambição para colocar meus pés na realidade que estou inserida. É doloroso mas ao mesmo tempo libertador, pois sinto que depois destas perdas não tem mais o que ser retirado de mim. Sempre tive muito medo de viver, e depois de acontecer o pior que eu poderia esperar, sinto que estou pronta para viver a minha vida com toda a coragem que eu poderia obter. Quero dizer, o que mais pode acontecer?

Apesar de ser um álbum pessoal, 'Fortuity' é um álbum feito em quarentena; há um senso de universalidade nas faixas?

Sim, sinto que o álbum trará um senso de universalidade uma vez que a quarentena nos obriga a passar um tempo conosco. Nossas emoções estão mais afloradas quando estamos trancafiados em quatro paredes, não temos mais festas para nos distrair dos nossos problemas. Agora ao invés de estar entediado você é obrigado a se autodesafiar, pois os shoppings estão fechados. O disco explora cada emoção que foi vivida de maneira exacerbada por no mínimo, todos nós.

Van Vogue sempre esteve envolvida em polêmicas no oddcast, entretanto, pela primeira vez vemos as rivalidades com outros artistas respingarem na recepção de uma era sua. No que o ódio impacta no seu processo criativo?

Acho que as pessoas tem dificuldades em me compreender dentro da comunidade por conta de eu não pertencer a uma panelinha. Eu sempre fui contra e a favor de todos em diferentes momentos. De um modo ou de outro no fim todos tem acesso ao que é criado por mim, ainda mais quando trata-se de ódio que gera maior repercussão e isso é o que realmente importa no final do dia, não quantos dislikes tenho em meu clipe. Sempre fui e sempre serei odiada, já é uma parte da história da Van Vogue nesta altura do campeonato.


A maioria dos comebacks da Van Vogue são feitos em um curto período de tempo após o término de uma era anterior. Há algum motivo pelo qual 'Wash Me Away' ter sido anunciado em março e lançado somente em agosto?

Há diversos motivos *risos*. Estar cansada do oddcast e estar enfrentando estas difíceis situações foram os principais delas. Mas também o perfeccionismo em querer entregar visuais que compactue com a mensagem que eu quero passar tornava o single cada vez mais diante do dia de ser lançado.

As duas músicas reveladas até agora possuem o mesmo conceito aquático, utilizando a água como metáfora para expressar emoções. Da onde surgiu a inspiração para este conceito?

Há uma artista chamada Eartheater que eu conheci ano passado através da minha amiga Helena Ross que possui um álbum chamado 'Trinity', onde a mesma utiliza os estados da água como metáfora para relatar as transformações em um relacionamento até que o mesmo alcance o fracasso. Como uma pessoa que abertamente declaro que sofro de transtornos mentais, água sempre teve um grande impacto na minha vida, sendo necessária para que eu alcance um bem estar mental. Juntei estes dois conceitos e meu cérebro fez um 'click', tudo fez sentido para mim.

2020 é um ano bastante movimentado e competitivo no oddcast, no qual diversos artistas estão lançando trabalhos bastante minuciosos. Cite os seus lançamentos favoritos até então.

Ultimamente eu tenho estado viciada em 'Hoje Irei Ditar As Regras' da Ariana Carper, todo o disco da Emmy Leitão, 'Megalomania' da Carmin, 'Alvo' da Kanina e o álbum da Vanessa Clark. São trabalhos que não saem da minha playlist!




Fortuity, sexto álbum da Van Vogue, é também o sexto álbum lançado pela artista através da gravadora Kleine Huren Records. Disponível nas plataformas digitais em outubro. 


Fotos por Antonietta Gienrich

Matéria por Circe Carmina Coppola