STATIONCRITIC: A ''Psicose'' de Thalia é contagiosa, e nós estamos muito felizes de termos sido contaminados.


Thalia (ex-Trakinas) é o maior exemplo que temos atualmente de evolução musical. O início de sua carreira foi marcado por uma série de discos mal produzidos e vazios, mas, de um tempo para cá, a artista vem revertendo essa história com seus novos materiais, que melhoram dia-a-dia. 

Seu mais recente álbum chama-se "Psicose" e carrega consigo a sonoridade mais utilizada do oddcast, o deep-house. A era começou controversa com o lançamento do lead-single "Lágrimas", que foi bem visto por algumas pessoas, mal visto por outras, o que fez com que a cantora lançasse um videoclipe para a versão remix do single, que também não atraiu totalmente o público. Em seguida lançou a faixa-título em parceria com Lexie Stone, que gerou controvérsia novamente, resultando na exclusão da faixa do seu canal no YouTube.

Mesmo com todas as controvérsias envolvendo o disco, a cantora acreditou no seu material e resolveu seguir adiante com o mesmo sem fazer nenhuma grande alteração (exceto pela faixa título que foi totalmente refeita). Psicose foi lançado no dia 12 de abril, preenchido por dez faixas, tendo a parceria já mencionada com a cantora Lexie Stone e outra com Raquelusho, sem contar com as duas parcerias da versão deluxe com Meryl, Stone novamente e Van Vogue. Entretanto, com um lead single fraco e outro cancelado, a maré não estava tão a favor da cantora para darmos um voto de confiança.

01. Fuck Me Up
O álbum é aberto pela mediana "Fuck Me Up". A faixa carrega consigo uma instrumental um tanto sonolenta e uma produção que não conseguiu levantar o hype da mesma, tornando-a num começo um tanto decepcionante. Na realidade, talvez a faixa se desse melhor se fosse colocada no meio do material entre duas faixas mais animadas, para dar uma "descansada" na sonoridade, mas a escolha de colocá-la para abrir o disco não foi muito satisfatória.

02. Ser Humano
Seguindo em frente, o álbum começa a mostrar um pouco do seu potencial em "Ser Humano". Uma música que fala sobre a raça humana em si e seus defeitos, incluindo a sua fácil capacidade em cometer diversos erros e magoar outras pessoas, mas também contempla a persistência da humanidade de não se entregar tão facilmente, mesmo quando está no fundo do poço. A instrumental da faixa é um dos seus pontos altos, mas a produção eficiente de Thalia certamente a tornou mais atrativa aos ouvidos. Ponto para a Thalia.

03. Paraíso
Essa aqui felizmente já virou single e já ganhou seu respectivo videoclipe, obrigado por não cagar a sua era, Thalia. Em seus versos, a cantora fala sobre um homem que a levou às loucuras na pista de dança, mas que a relação não fluiu depois dali, o que a deixou decepcionada. "Paraíso" é um dos pontos mais fortes de todo o álbum, com uma instrumental incrível, uma produção ágil para acompanhar suas respectivas batidas e uma composição fácil de se decorar, não é difícil se apaixonar pela faixa logo na primeira ouvida. "Entre as luzes daquela festa, você me fez acreditar que o amor verdadeiro existe, algo que eu não podia opinar. Eu queria correr de você, até que você agarrou na minha mão. Me beijou na primeira oportunidade, mas que tremendo vacilão".

04. Lágrimas
Enfim chegamos ao que foi o primeiro single da era, numa escolha precipitada da cantora, da qual a mesma já admitiu ter se arrependido. "Lágrimas" tem uma instrumental que poderia ter sido muito melhor aproveitada se Thalia tivesse dado mais atenção a sua produção. Os vocais abafados na maior parte da canção e a quantidade absurda de efeitos na voz da cantora em momentos desnecessários foram o maior problema desta faixa. Ainda assim, você consegue ouvi-la por mais algumas vezes graças a instrumental.

05. Submissão (ft. Raquelusho)
Voltamos aos bons momentos do disco. "Submissão" tem um conjunto da obra perfeito, instrumental marcante, bela composição e produção muito bem trabalhada. Nesta faixa, Thalia e Raquelusho dizem ser submissas a um homem que conheceram numa boate e que permitem que ele faça o que quiser com seus corpos, pois elas estão ali por ele. A dinâmica entre as duas vozes ficou ótima, dividindo muito bem os espaços para que a faixa não acabasse se tornando enjoativa ou menos agradável.

06. Barreiras
Prosseguindo, temos outro grande ponto do álbum. Em "Barreiras", Thalia expressa toda a sua indignação em relação a um homem que a encantou, mas logo descobriu que ele não prestava e o culpa por ter construído uma "barreira" entre os dois, impossibilitando que o relacionamento dê certo. Essa talvez seja uma das melhores composições do disco e a produção não fica para trás, dando para a faixa todo o ênfase que ela deve ter dentro do álbum. Ponto pro biscoitinho do Oddcast.

07. Psicose (ft. Lexie Stone)
Numa versão totalmente diferente da apresentada como single, "Psicose" é MUITO mais audível nesta versão. Com uma composição mais profunda, Thalia e Lexie cantam suas desilusões amorosas como se fossem surtos psicóticos e acreditam estarem loucas, pois estão se afogando dentro de suas mágoas. A instrumental é uma das mais lindas do disco e sua composição/produção acompanharam muito bem o seu ritmo, tornando-a numa faixa que te faz se sentir bem quando a ouve. "Já fui chamada de bipolar, já fui chamada de esquizofrênica, mas ninguém sabe que você é o meu verdadeiro problema". Trakinamém.

08. Metamorfose
Subindo o ritmo novamente, "Metamorfose" traz mais uma letra sobre desilusão, porém, desta vez, Thalia tenta convencer o rapaz em questão a permanecer com ela, pois acredita que não conseguirá evoluir como ser humano se ele não estiver por perto. A instrumental é bem dançante e a produção a acompanha criando um contraste com a composição, o que combinou perfeitamente no resultado final.

09. Superação
Quase chegando ao final da versão standard do disco, temos mais uma faixa dançante. Em "Superação", Thalia já está conseguindo se acostumar com o seu amor perdido, mas acredita que não precisa superá-lo, pois foi uma fase da sua vida que ela gostará de se lembrar daqui algum tempo, por mais infeliz que tenha sido. "Superação é algo para pessoas fracas" canta ela em seu refrão. O conjunto instrumental/composição/produção está em total harmonia, sem nenhum erro, tornando a faixa numa das melhores do material.

10. Mariposas
Chegamos ao final da versão standard do disco com uma das faixas mais potentes do material, comercialmente falando. A instrumental é a melhor de todo o disco, com seus pontos altos e baixos em total harmonia, ela mantém o hype por toda a sua duração. A composição, co-escrita por Sara, é uma das mais bonitas do material, montada quase toda por metáforas e a produção está bem demarcada, como as batidas da instrumental pedem. Certamente, é um dos grandes pontos do disco.

11. Bebidas & Cigarros (ft. Meryl & Lexie Stone)
Abrindo a versão deluxe do álbum, temos outro grande ponto do mesmo. As três vozes de "Bebidas & Cigarros" estão muito bem distribuídas, uma sem invadir o espaço da outra e, o que talvez seja o principal, as duas convidadas (Meryl e Stone) não se sobressaem mais do que a cantora principal, estando ali apenas para deixar a canção mais atraente aos ouvidos. A composição também é um ponto forte da faixa, falando sobre alguém que as decepcionou muito uma vez e agora implora por perdão, mas elas não estão nem um pouco interessadas em cometer este erro novamente. "Entre bebidas e cigarros, eu não quero te amar, mas, se penso nos bons momentos, não consigo me controlar. Eu já derramei tantas lágrimas desde que você se foi, você volta esquecendo que não se importou com nós dois [...]".

12. Eu Não Sou Jesus (ft. Van Vogue)
Com uma instrumental bem voguing recheada de samples, Thalia e Van Vogue se juntam para uma das faixas mais comerciais do disco. Fazendo deboche de Maria Madalena e da Igreja Católica num geral, a composição é bem cômica ao mesmo tempo em que é bem narcisista (e isso não é uma reclamação). Uma ótima maneira de encerrar a versão deluxe do disco. Ponto pra sucessora natural da cantora mexicana Thalía.

***

Thalia demorou muito para conseguir ser valorizada por seu trabalho, até porque, no início de sua carreira, ela não era tão digna disso como é hoje. Com músicas totalmente superiores ao que já lançou em toda a sua carreira, a cantora finalmente parece estar encontrando o caminho certo, ainda que cometa alguns deslizes no meio do trajeto.

"Psicose" é um álbum digno de várias indicações e até prêmios nas mais importantes premiações da comunidade, pois é um álbum - em sua maior parte - coeso e muito bem trabalhado. Lotado de canções muito bem produzidas e composições de nível altíssimo, pode-se dizer que é um álbum completo, quando até as faixas mais fracas do mesmo são superiores às melhores dos seus anteriores. Ainda que tenha seus pontos fracos, o material consegue cumprir muito bem o seu papel de entreter seus ouvintes com faixas dançantes, ao mesmo tempo que consegue comover àqueles que gostam de prestar atenção nas letras e em seus significados e tudo isso é resultado do grande esforço e dedicação da sua intérprete. Thalia, não se preocupe, você não precisará ser internada por conta da sua psicose, mas aqueles que não reconhecerem o grande potencial deste disco como um todo devem ir direto para a camisa de força, aliás, já deveriam estar lá.