STATIONCRITIC: As aflições de Wendy Khirsty são convincentes, mas ainda não tornam-a num nome confiável.

Sem dúvidas, 2014 foi um grande ano para a música virtual, tivemos diversos comebacks marcantes e muitos novatos promissores que fizeram ou ainda fazem muito sucesso atualmente. Porém, com tanta coisa para prestar atenção naquele ano, alguns passaram quase que despercebidos, e um deles foi a Wendy Khirsty.

A cantora também não fez muito por onde merecer a devida atenção, num ano onde todos os holofotes - principalmente do Pornopop - estavam virados para KARMA e seu aclamado álbum de estreia, o primeiro disco da cantora foi apenas morno. "Orgasmo Noturno" não foi um grande disco de estreia e acabou não trazendo muito feedback para sua intérprete.

Como consequência, a era acabou precocemente, com apenas 3 singles, e daí em diante a carreira de Khirsty só desandou. Sua gravadora na época, a SGBP, declarou falência após a maioria de seus artistas migrarem para a FPV Records e Wendy seguiu este bonde, mas não lançou nada pelo selo, pois não concordou com algumas imposições que haviam sido feitas para que seu contrato fosse validado, então, passou um bom tempo sem ter uma gravadora até assinar com a Kleine Huren, alguns meses depois.

Daí então foi uma série de enrolações até o "Afflictions" ser lançado no final do último mês. O álbum é formado por 10 faixas que carregam sonoridades pop e, em sua maioria, eletrônicas. Dois anos após o lançamento do seu primeiro disco, será que este finalmente a trará a atenção merecida?

01. Avulsa
O álbum é aberto pelo seu primeiro single, a icônica "Avulsa". Esta faixa foi a primeira de trabalho da cantora depois de 2 anos em silêncio e foi aclamada por todos quando lançada, e não é pra menos, sua letra é bem chiclete e sua produção é impecável, um grande comeback para quem causava dúvidas em relação a seus trabalhos. "Estou mergulhando em seu mar de mentiras, em que você é o principal navegador. Enquanto me afogo em minhas mágoas, você me faz sentir dor". Dúvidas devidamente tiradas!

02. Quando a Lua Volta
Inicialmente, esta faixa havia sido feita para integrar a tracklist do novo álbum de Lexie Stone, mas, após a cantora descartá-la de seu disco, vendeu a composição para a amiga e colega de gravadora. "Quando a Lua Volta" é um dos grandes triunfos do disco, com letra pegajosa e produção recheada de truques para acompanhar a instrumental electropop, provando todo o esforço que Khirsty colocou em cima desse disco. "Quando a lua vai embora eu sinto falta do seu olhar conquistador, mas, quando a lua volta sei que estou melhor sem você, meu amor".

03. Segredo Artificial (ft. Tanusha)
A partir daqui o disco começa a abandonar as faixas pop e entrar de vez no eletrônico. As duas intérpretes desta faixa já colaboraram antes em uma faixa do primeiro disco de Wendy, "Fuck The Fame", mas não ganharam tanto destaque. Porém, nesta a situação é diferente. "Segredo Artificial" é uma faixa eletrônica que flerta com alguns instrumentos musicais, como a guitarra e a bateria, a produção da faixa acompanha a instrumental em todos os seus momentos, os vocais crescem e diminuem conforme a batida pede, e isto encaixou perfeitamente em cima da faixa. Ponto pra Wendy Khirsto!

04. Marionette 
Com uma instrumental seguindo a nova vibe do disco, "Marionette" trás a insegurança de Wendy em ser manipulada por seu amor, mas ao mesmo tempo usa do duplo sentido para nos confundir, fazendo com que o ouvinte as vezes ache que a música tenha uma conotação sexual. A composição não é uma das melhores, esse tema de “manipulação” já foi bastante utilizado, mas isso não faz com que a faixa seja ruim e sim só mais uma com o tema.

05. Má Conduta 
A faixa não é ruim, tem uma composição bem pessoal e vemos a Wendy insistindo em um relacionamento talvez perdido, porém em alguns momentos é difícil entender o fonema da cantora, com a voz abafada e o eco exagerado num ponto forte da instrumental. “Você encontra em meu corpo, a saída de suas mágoas mais profundas e eu encontro em seu beijo, o caminho para a má conduta”.

06. Privacidade
Essa faixa é confusa, por mais bem produzida que seja, Wendy é muito controversa, parece não saber o que quer, será que ela é geminiana? Em um momento ela quer ficar sozinha, se ver livre e mostra ser uma mulher cheia de segredos, em contrapartida, ela pede para que seu coração seja invadido. “Não invada minha vida, não invada minha mente. Quero que minha privacidade acabe lentamente. Abra a porta a porta de meus peitos, e invada totalmente minha privacidade [...]”. Sem contar com a repetição de palavras usadas pela cantora nessa letra, o que faz a canção ficar cansativa.

07. Hurt Locker 
Essa com certeza é uma das melhores faixas do disco. A instrumental casa perfeitamente com a composição, assinada por Lexie Stone. A letra pode ser interpretada de duas formas: Colocar todas as magoas e sentimentos ruins dentro de um armário ou, também, o famoso “armário” onde muitos homossexuais se encontram. “Não quero que você abra o armário da minha dor”. Vem Wendy! Chora no meu colo. Snif snif

08. Escolhas
Voltando aos poucos para as faixas eletrônicas, porém sorrateiramente, temos "Escolhas", que talvez seja uma das melhores do material. A composição, assinada por Van Vogue, é muito bem escrita num geral e seu refrão é repetitivo no ponto certo, sua produção se encaixa muito bem na instrumental, que, por sinal, é bem singular comparada ao restante do material. "Se tudo é questão de pré-destinação, estaria eu alcançando o impossível? Quantas mais lágrimas eu terei de chorar para minha felicidade alcançar?".

09. Pandora
Novamente predominando a sonoridade eletrônica, temos "Pandora", a faixa que mais fará sucesso comercialmente se for single de todo o material. A instrumental é tão icônica que nos faz imaginar diversas hipóteses de videoclipes enquanto a ouvimos e a sua produção é muito bem colocada, com apenas o problema recorrente do eco exagerado que já comentamos em outras faixas, prejudicando um pouco o entendimento da composição, mas, no geral, é uma boa faixa.

10. Tutankhamun
"Tutankhamun" foi um faraó que assumiu o poder aos 9 anos de idade e morreu aos 19. Nessa faixa mal produzida e estridente, Wendy se vê aflita e amedrontada com a possível ressureição do falecido faraó. Enquanto todas as faixas foram sentimentais e intimas, Tutankhamun contradiz tudo que esse álbum apresentou até agora. É uma faixa tapa buraco e fraca.

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Após tanto tempo sem nenhum contato com a música e dificuldades para encontrar um selo que pudesse lhe dar o suporte necessário para seu disco, Wendy Khirsty se desprende das letras eróticas e vulgares e nos apresenta uma nova faceta de sua personalidade musical, uma faceta mais sofisticada e trabalhada, porém, ainda soa confusa e inconstante.

Com uma faixa como "Avulsa" carregando o álbum nas costas durante a maior parte de sua divulgação, ao ouvir o disco, o resultado é bom, mas de certo modo decepcionante, pois são poucas as faixas que se igualam ao nível do single em questão. Ao fim do disco, nós passamos a acreditar mais nas produções de Wendy, todavia, ainda é muito cedo para dizer que confiamos nelas.