STATIONCRITIC: O amadurecimento musical e pessoal de Shanna Evans com ''Madame Boucherie''.

Reconstruir uma imagem destruída por atitudes erradas é uma tarefa bem difícil, exige muita força de vontade e capacidade em provar que está arrependida de atos tomados no passado, e mesmo que esteja, convencer as pessoas é a parte mais complicada deste processo. Shanna Evans teve que passar por este processo nesse último ano.

A cantora causou grande polêmica em 2015 por conta de falas que dissera e se tornou a artista mais odiada do mundo virtual por certo tempo e nem mesmo o seu maravilhoso "Filthy" foi capaz de tirá-la desse buraco, pelo contrário, ele virou a pauta das zoações com seu nome. Vendo seu nome indo para a lama, a então princesa do Pornopop decide tirar longas férias e se distancia do mundo da música, sem dar nenhuma previsão de quando voltaria ou se voltaria. 

Eis então que, em meados de 2016, Evans retorna com a faixa "Sexcontros" e a entrega um clipe maravilhoso, com uma ótima fotografia e edição. E isso, mais seus pedidos de desculpas e novas atitudes, foram o suficiente para que sua imagem zerasse outra vez, permitindo com que ela a reconstruísse da forma que gostaria de ser reconhecida. 

E então o "Madame Boucherie" nasceu. Este é o primeiro disco de Shanna depois do "Filthy" (2014) e toda a confusão envolvendo sue nome e veio com uma sonoridade mais madura do que o anterior e o restante de sua carreira, mas será que isso é algum ponto positivo?

01. Sexcontros
O álbum é aberto pelo primeiro e único single do material até o momento. "Sexcontros" carrega uma sonoridade mais puxada para o sytnhpop e tem uma das letras mais criativas e, ao mesmo tempo, bem construídas de toda a carreira de Shanna. Nesta faixa, a madame do Pornopop se diz uma garota de programa e intimida um dos seus clientes, dizendo que não aceita pouca coisa e que para o sexo ser de boa qualidade, os dois tem que sentir prazer. "Assine meu contrato, seu nome na linha de baixo. Me leve para sua cama, não me faça perder a nossa chama. Eu tenho um segredo, um perigo, dois desejos. Deitada sobre a cama, prazer, o meu nome é Shanna".

02. Love A Lot
Divulgada inicialmente durante a entrevista da cantora para a RSV, "Love a Lot" traz bastante elementos de piano e bateria, puxando mais para o chill, e traz uma letra que vira e mexe zomba da própria cantora e suas atitudes em 2015, mas seu foco principal é sobre a amizade. Shanna fez uma nova "Querida Annie", porém, desta vez para seus amigos (o que reduz a possibilidade da faixa ser excluída daqui uns anos para 0,1%) e diz que não seria nada se não tivesse com quem contar. A produção da faixa é bem equilibrada, com backing vocals nos pontos certos sendo sobrepostos pela voz principal da cantora, não deixando a instrumental vazia em quase nenhum momento.

03. Conceptually Horny
Agora vem uma das melhores do CD. Esta faixa tem a letra mais criativa de todo o disco, onde Shanna encarna uma professora ou amiga que está dando aulas particulares para um homem e revela só estar fazendo isto por ter um interesse sexual pelo mesmo. A produção da faixa também não fica para trás, demarcada, toda a timeline é preenchida corretamente e a cantora ainda abusa de truques vocais, enriquecendo-a ainda mais. "Você conhece a conceitualidade da mitologia? Estou admirando com toda alegria. Sabe quem foi o primeiro presidente? Te respondo com toda harmonia. Quer que eu explique o feminismo? Te ensino com toda astúcia. Onde foi o ponto crucial da Segunda Guerra? Na Rússia", chega a ser surreal de tão bem pensado que é.

04. Madame Boucherie
A faixa título chega e também é um grande ponto do álbum. Com uma sonoridade mais puxada pro synthpop, a faixa fala sobre uma terceira pessoa, uma madame, como o título já indica, e, ao decorrer da música, vai inflando o ego desta mulher, a enchendo de elogios e enaltecendo todas as suas características. A produção é uma das mais enfáticas do CD, sendo destaque da canção, a instrumental também colabora bastante para este feito.

05. Crazy Gal (ft. Gabi)
Primeiro featuring do disco, Shanna e Gabi se juntam nesta faixa para falar sobre suas fantasias sexuais e assumem serem loucas quando se trata de prazer. A instrumental é uma das mais marcantes de todo o disco e a produção a acompanha perfeitamente bem, a junção das vozes das duas veteranas foi sensacional para a canção. "Sou essa garota louca que você tanto ama. Pelada, você não me entende, por dentro eu sei que é quente".

06. Half The Bitch
Essa é uma das mais gostosas do disco. "Half The Bitch" é uma faixa tranquila, com instrumental calma, mas com a produção se torna bem viciante. Evans diz, na composição, que se tornou apenas a metade da vadia que costumava ser depois que conheceu e se apaixonou por um cara. Não é um grande destaque do álbum, mas é ótima.

07. Vanilla Sex
Chegamos a favorita dos fãs da princesa do Pornopop. "Vanilla Sex" é uma faixa mais comercial, comparada com o restante (com exceção de "Boucherie"). Na letra, Shanna fala para seu marido que está cansada do sexo convencional e exige que o mesmo comece a usar acessórios e fazer joguinhos sexuais para apimentar a relação. A produção, novamente, toma destaque na faixa, talvez por este fato tenha se tornado o grande hino do CD, de acordo com a maioria do público. "Estou cansada desse sexo baunilha, tudo é sem graça, você é uma desgraça. Não tem amor, nada de bom além do seu fedor. Não tem tesão, é apenas eu e minha imaginação. E tudo que eu quero é uma noite de diversão [...]".

08. Give Me Just A Little More Time
Desacelerando um pouco ritmo, em "Give Me Just a Little More Time" Shanna pergunta para seu marido porque ele a deixou e o pede mais uma chance para tentar recuperar a relação. A letra, apesar de soar melancólica, ainda mais pela instrumental, é bem cômica e faz diversas referências a artistas da comunidade. Novamente, não é um grande ponto do disco, mas é uma boa faixa.

09. Big Words & Big Dicks
Voltando as faixas comerciais, "Big Words" é a faixa com a letra mais explícita do disco. A instrumental traz elementos chill e um pouco de eletrônica, principalmente no refrão, e a produção, apesar de não ser uma das melhores do material, acompanha muito bem a mesma.

10. Bachelorette
Esta é a faixa onde Shanna aponta todos os defeitos do seu ex-namorado e esfrega em sua cara que está bem melhor sendo solteira. A produção e a instrumental são o ponto alto da faixa, que mesmo não sendo um grande ponto comercial, poderia ter um efeito moderado nas paradas caso se tornasse single. "Solteira, num estado de reflexão. Nada me incomoda, poder sair sem aflição. Não tenho medo de ficar sozinha, eu não quero uma má companhia. A noite é uma criança, não posso, não quero perder a esperança".

11. Safadeza Songs
Falando sobre o Pornopop em geral, nesta faixa Evans fala sobre a história da plataforma que tornou a música virtual em algo conhecido através de músicas de safadeza, sexo explícito e pura comédia. Apesar da composição é muito bem construída, deixando velado em todos os momentos o seu foco principal, exigindo que o ouvinte interprete a letra, algo que não é tão difícil, pois o tema fica bem explícito em alguns versos. "Por isso escrevemos canções de safadeza, implantar toda a futilidade é uma proeza. Quebrando todos os tabus, criando uma nova sociedade [...]", você quer "Make Pornopop Great Again"?

12. I Don't Need a Sugar Daddy (ft. ShaniQua Shonda)
Encerrando o disco, nesta faixa Shanna diz que não precisa de um "papai de açúcar" porque gosta de conquistar suas coisas com seu próprio trabalho, mas também diz que se quisesse, conseguiria ter um facilmente. A produção é a melhor do CD, preenchendo a instrumental em praticamente todos os momentos, a tornando bem mais comercial do que já seria. "Compro minhas próprias bijuterias, eu trabalho. Você nunca vai ser este tipo de garota, você não é glamorosa, você se apoia nesse c*zinho cor-de-rosa".

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Sim, trazer uma sonoridade mais madura foi um ponto positivo. Encontrar uma semelhança entre o último registro de Shanna Evans e este é algo bem difícil, mas encontrar suas diferenças é algo bem mais fácil e prazeroso de fazer. Apesar do último disco ser muito bom, é perceptível que a cantora evoluiu, tanto em composição, tanto em produção quanto em gosto musical.

Depois de um período conturbado de férias, a eterna princesinha do Pornopop retorna para intensificar ainda mais o seu talento e o seu mérito por esse título (mesmo que a própria cantora tenha dito que gostaria de ter sido mais organizada com sua carreira). Evans teve, neste álbum, a oportunidade de criar uma nova imagem para si, após a grande confusão com o "Filthy", e conseguiu, finalmente, ser reconhecida pela grande artista que é. Tomem cuidado, a garota Filthy está nas paradas!