STATIONCRITIC: ''Freak Disco'' é o melhor pedido de desculpas que Beth Thunder poderia nos entregar após o fracasso de seu último disco.

Há poucos meses, o nome de Beth Thunder estava na boca do povo graças ao seu "Ultrajes de Uma Garota de Programa + Testes Vocacionais" (leia a resenha aqui), que entrou num meio termo onde metade do público e da crítica entregaram inúmeros elogios ao disco enquanto a outra metade - a qual nos encontramos - se decepcionou com o material e preferiu fingir que a cantora não havia o lançado e aguardava ansiosamente um novo disco que pudesse suprir os defeitos deste. 

E enfim ele chegou. "Freak Disco" é o nome do novo material de Beth, liberado como uma mixtape sem fins lucrativos logo ao final do Platinum Awards, em outubro do ano passado. Formado por 10 faixas cuja sonoridade principal lhe remete aos sucessos das falecidas discotecas e algumas faixas que também trazem um pouco do 8-bits. Depois de um material tão preguiçoso como "Ultrajes", será que Thunder conseguirá sua redenção?

01. Touch My Body
O disco é aberto por uma intro de quase 30 segundos que não acrescenta muita coisa. Não tem como gostar ou desgostar da faixa, pois ela é bem curta.

02. Chapando D+
É aqui que o álbum realmente começa. "Chapando D+" é a faixa que poderia ter salvo o "Ultrajes" se tivesse em sua tracklist. Com uma sonoridade mais eletrônica, puxando para o 8-bits, Beth fala sobre suas experiências com drogas e que está curtindo bastante a sensação, mas que não pretende se tornar uma viciada. Com alguns samples cantando "Tu tá chapando demais", a música é um grande ponto do disco, mas acaba se tornando uma bagunça no final quando a cantora mescla os samples com a sua própria voz e põe as duas vozes no mesmo volume, fazendo com que ninguém saiba exatamente para onde deve prestar atenção. Porém, não deixa de ser uma boa faixa.

03. Passaportes (Surrender) (ft. Van Vogue)
Entrando pela primeira vez na sonoridade dance, temos aqui a melhor faixa de todo o disco. "Passaportes" é a faixa onde tudo está perfeitamente encaixado, vocais, samples, efeitos e truques de produção e etc. Esta faixa fala sobre uma mulher que encara a vida como uma grande brincadeira e não atende as vontades da sociedade quando diz preferir passar o dia na praia ou em festas ao invés de construir um futuro que é considerado bem sucedido.

04. Contato (Beijo) (ft. Roberta Cristina)
Essa até já se tornou single do material. "Contato" carrega uma sonoridade mais oitentista e radiofônica. A letra repetitiva é algo bem comum no repertório de Beth, porém, aqui ela se tornou um trunfo da faixa em si junto com sua produção, que é uma das melhores do disco. Alguns samples e efeitos sonoros adicionados a faixa a tornaram mais atrativa e comercial.

05. Tanta Beleza
Desacelerando um pouco o ritmo, temos a primeira baladinha do álbum. "Tanta Beleza", assim como todas as faixas do disco, mostram a evolução de Beth no quesito produção comparado ao seu antecessor, porém, aqui ainda percebemos alguns erros não encontrados nas faixas anteriores. A instrumental da faixa - que é bem morta, por sinal - está bem mais baixa do que o vocal, que também apresenta uns efeitos de delay que fazem aparentar que a voz está mais alta do que já estava, e essa falta de ajuste nos volumes na hora da produção deixou a faixa mais cansativa do que ela já soaria.

06. Linear (ft. The Thieves)
Voltando a sonoridade disco/dance, temos "Linear". A instrumental e o preenchimento da timeline na produção são os pontos altos desta faixa, porém, os efeitos colocados em cima da voz de Beth estão mais altos nesta faixa, dificultando um pouco o entendimento da maior parte da sua composição.

07. Um Prazer Qualquer
Um pouco mais alternativa do que o resto do disco, "Um Prazer Qualquer" é a faixa que vai te deixar mais chapado do que a própria "Chapando D+", e isso é um elogio. A produção e a instrumental casam perfeitamente entre si, outro ponto forte da produção é o fato dela estar bem simples em efeitos, com apenas um eco em alguns versos, que a tornam mais lenta (no bom sentido). Ponto pra Maria Bethânia.

08. Super Super Super Super Super Super Super
Aumentando o ritmo novamente, temos um dos pontos mais altos de todo o álbum. "Super" tem uma das melhores instrumentais e produções de todo o disco e a composição mais bem construída do mesmo. Nesta faixa, Beth se vangloria do seu sucesso e diz que todos sempre a disseram que seria uma "superstar". A instrumental realmente chama muita atenção e poderia ter carregado a faixa pelas costas caso a cantora não se entregasse de fato a essa produção, felizmente, não foi isso o que aconteceu.

09. Bhaskara
Outro ponto alto do material, mas que acaba enganando a todos em seu início. Os primeiros vinte segundos de "Bhaskara" são bem irritantes, pois a cantora quis colocar sua voz no tom mais alto possível para enfatizar alguma coisa que ainda não sabemos exatamente o que era. Não dizendo que ela não deva enfatizar algo caso seja sua vontade, porém, existem milhares de efeitos que poderiam ter dado um resultado mais agradável do que este. Entretanto, os próximos dois minutos e trinta segundos da música são ótimos e confirmam realmente a evolução de Beth no quesito produção. Com uma das instrumentais e composições mais destacadas de todo o disco, esta faixa se torna um grande ponto do mesmo.

10. Tokyo Lights
Encerrando o álbum, temos a disco eletrônica "Tokyo Lights". A instrumental da faixa é bem marcante e sua produção realmente está ao nível do disco, porém, tanto a voz de Beth quanto a instrumental estão num volume mais alto do que deveriam, o que acaba deixando os vocais estourados em poucos momentos, mas não estragam a beleza da faixa, que encerra muito bem o disco.

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Beth Thunder é praticamente uma veterana no mundo virtual, porém, a qualidade de sua discografia se tornou uma incógnita para a comunidade quando a cantora se perdeu no meio de lançamentos fracos que vieram sucedendo grandes discos que a levaram ao sucesso. E quando todos estávamos nos perguntando se um dia ela voltaria a ser a mesma de antes, ela volta e nos prova que não. Beth não é mais a mesma cantora que era no início de sua carreira, seu estilo musical mudou, suas letras mudaram, amadureceram, e, pela primeira vez, pudemos a ver num material onde ela estivesse sendo 100% ela mesma.

Sem forçar uma conceitualidade ou uma necessidade rápida de hitar através de memes, Beth finalmente está compondo letras que a deixam confortáveis, mesmo que sejam faixas engraçadas e que não tragam nenhum cunho pessoal, sentimental ou crítico, elas trazem uma naturalidade e mostram o melhor lado da sua intérprete que nós ainda não conhecíamos. "Freak Disco" veio como um ótimo pedido de desculpas de Thunder para seus fãs, depois de ter cometido alguns erros no passado e, mais que isso, se tornou o melhor CD da carreira da mesma.