STATIONCRITIC: O auto-boicote de KARMA e a confirmação de que ela está bem ''Krazy'' quando se trata de sua carreira.


Estrear no topo é uma benção para a época, ganhar reconhecimento logo no disco de estreia e já entrar pro esquadrão principal de artistas do Pornopop é um sonho que todos gostariam de realizar, mas, quando conseguem, recebem uma responsabilidade imensa nas costas de manter o nível nos seus álbuns seguintes. Isso aconteceu com KARMA.

Desde seu debute em 2014, KARMA é um nome que alimenta muitas esperanças, principalmente pelo seu disco de estreia ser tão bom e por ter marcado o Pornopop de forma positiva. Porém, essas esperanças se tornaram decepções quando seu disco "KARMANÁS" veio a público com faixas tão ruins como "Exército Zumbi", por exemplo.

Na tentativa de consertar o terrível erro, a cantora partiu rapidamente para a produção do seu terceiro disco de inéditas, o "Krazy". Krazy trouxe de volta a KARMA que conquistou o Pornopop com seu álbum autointitulado, com a sonoridade mais alegre, letras viciantes com rimas rápidas ou cômicas e um visual mais colorido. Mas, será que o impacto deste foi igual ao do primeiro? 

01. Frisson
O álbum começa bem, com uma música animada, composição engraçada com rimas eficazes (apesar de soar confusa) e a produção razoável, ao padrão da KARMA. O destaque da canção fica de fato para suas rthimas, que casam perfeitamente com as batidas da instrumental e torna a faixa mais agradável. Foi um início simples, singelo, mas eficiente e satisfatório para fazer com que esqueçamos por alguns minutos do fracasso do disco anterior.

02. Pelo Mundo
E o disco é seguido por uma das melhores faixas do material, com ótimo potencial para single (só dizendo). A letra de "Pelo Mundo" fala sobre a volta ao mundo que KARMA já deu e ainda quer dar, com direito a ambiguidade no refrão. A instrumental é ótima, a composição bem elaborada e a produção melhor executada, dando um grande destaque a faixa sobre sua anterior. "Te mostrei minhas curvas e você me fez escalar o Everest. Uma viagem pelo mundo, todo mundo tire suas vestes".

03. Pra Mim Deu
Como nem tudo são flores, o disco tinha que decepcionar em algum momento. "Pra Mim Deu" é uma canção chata, com letra previsível e monótona e instrumental saturada, além dela não se encaixar de forma alguma no disco. O fato dela ter sido escolhida como single só mostra que KARMA precisa de uma agenciação melhor, ou então produzir todas as faixas do disco antes de escolher quais irá trabalhar, pois nada justifica.

04. Sonho (ft. Zora Venka)
Salvando a pátria e resgatando todo o hype jogado fora pela faixa anterior, temos mais um grande destaque do material. "Sonho" fala sobre o desejo de KARMA e Zora em ter um cara específico ao seu lado, e, para tentar conquistá-lo, fazem uma divulgação de si mesmas, explanando todas as suas qualidades e apelando até para algumas cantadas propositalmente bizarras, na esperança de atrair algum interesse no rapaz. É uma ótima faixa, elevando o nível do disco de uma forma que será difícil de manter, principalmente se tivermos mais "Pra Mim Deu" a seguir. 

05. Seu Amor
Uma marca registrada do álbum de estreia de KARMA foram seus ótimos covers de músicas de artistas reais, como Rouge e Gretchen, e, como o objetivo era agradar o público, a cantora resolveu trazer suas regravações de volta para este disco, fazendo um cover da ex-Pussycat Doll e one hit wonder Nicole Scherzinger. "Seu Amor" segue fielmente a tradução literal da letra da canção original, e a produção ficou surpreendentemente boa, visando que a faixa original tem diversos truques no vocal difíceis de serem reproduzidos em oddcast, mas que não ficaram desagradáveis em momento algum. É um ponto alto do disco, e foi uma boa escolha para single, ainda que hajam faixas melhores para serem aproveitadas, já é um avanço ver que a cantora está começando a acertar na escolha de seus singles.

06. Homem Mormaço
Mais um single-que-não-devia-ter-sido, porém, desta vez, o erro não foi tão imperdoável assim. "Homem Mormaço" é uma faixa mediana, a sua composição é preguiçosa, mas a instrumental segura o hype e mantém a canção "audível" por alguns minutos. Poderia ter sido descartada do disco facilmente, pois não acrescenta em absolutamente nada no mesmo, pelo contrário.

07. Luau
Mais um ponto médio do material, "Luau" é uma canção fraca, mas não altera muito a nossa opinião sobre o material e foge um pouco da sonoridade central do disco. A letra é "ok", a produção razoável e a instrumental sonolenta nos versos, mas agradável no refrão, se mantendo na linha até o final de sua duração.

08. O Que Eu Quero
Trazendo as faixas boas de volta ao disco, "O Que Eu Quero" é quase toda montada no violão e traz uma das letras mais ágeis e concretas do disco, sendo uma das poucas que não foge da sua ideia central. Levando o título da canção ao pé da letra, KARMA canta nesta faixa sobre exatamente tudo o que ela quer fazer da sua vida - e todas as sugestões são válidas, por sinal. A produção não é muito elaborada, mas é bem executada e exatamente o que a instrumental pede.

09. Seita
Voltando aos singles que nunca deviam ter visto a luz do sol... "Seita" é uma faixa legal e divertida, nas cinco primeiras audições, depois disso você percebe o quanto ela é insuportável, principalmente por conta da sirene policial que toca ao fundo em grande parte do tempo. O mais triste é que esse foi o lead single do disco e, ainda sim, não se encaixa nada com o mesmo. Ou seja, KARMA mudou totalmente a sonoridade do seu disco depois da má recepção da canção e mesmo assim insistiu em mantê-la no álbum, e por qual motivo? Números!

10. Tique-Taque
Mais singles... Mas este até que não é tão ruim. "Tique-Taque" tem uma produção eficiente, letra coesa (raridade neste disco) e uma instrumental eletrônica dançante, realmente tudo o que se precisa para ter um grande hit das rádios, o grande problema é que ela soa muito com o que os novatos de 2013/2014 trouxeram e que já se tornou bem saturado nos dias de hoje. Comercialmente esta faixa pode se sair bem, mas espero que sua gravadora não submeta esse single em premiações futuras.

11. Tarot
Com uma pegada mais rock, "Tarot" tem uma das letras mais fracas do disco, misturando pontos distintos a cada verso da canção, sem ter um foco específico. A produção é boa e a instrumental é ótima, apesar de não se encaixar no disco em momento algum, o X da questão realmente foi a composição, que estragou o que poderia ser uma puta faixa.

12. Vê Se Me Esquece
Com um single em potencial bem aqui e a KARMA me lança "Pra Mim Deu", é de chorar, né não? "Vê Se Me Esquece" tem uma das letras mais ecléticas do disco, uma ótima produção e instrumental perfeita. Nesta faixa, a cantora fala sobre a parte ruim da fama, que é a perseguição dos tabloides, dos paparazzi e até mesmo dos fãs, tratando a situação de forma engraçada. "Que saco, tô cansada, quero ver você calada! Vê se me esquece, cansei de ser fotografada. Vou sair da mídia, estou muito cansada. Vê se me esquece, cansei de ser noticiada". Ponto pra Karminha e seus "Paparaparapapapa".

13. Bolacha (ft. Thalia Trakinas & Jout Jout)
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK'. Me desculpem, mas não existe argumento suficiente para dizer o quanto esta faixa é ruim. Só o fato dela ser uma forma preguiçosa de hitar em cima de um nome famoso já é o suficiente. KARMA, eu te amo, mas assim não tem como te defender.

14. Na Beira do Mar (ft. Xereca Baiana)
Preciso dizer o quanto essa canção se dispersa no disco? A qualidade totalmente inferior ao resto do material, apesar da produção não estar ruim, a qualidade vocal estragou totalmente o que poderia ter sido um hit em potencial. O disco ficou ruim, de repente...

15. Luau (K7 Remix)
Aqui está a prova viva de que KARMA precisa ser melhor agenciada. O remix de "Luau" é tão superior a original, e poderia facilmente se tornar a versão oficial, pois não é um daqueles remixes que tiram a coesão e o sentido da letra original, além de combinar mais com o disco do que a faixa em questão. A produção está bem melhor elaborada e a canção bem mais atrativa nesta versão, encerrando o controverso disco extremamente bem. Ponto pra Karminha.

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Ao final do disco, a impressão que fica é de que KARMA tinha um ótimo material em mãos, com faixas inéditas com ótima qualidade e que fariam um ótimo álbum juntas, mas a cantora se auto boicotou mantendo faixas que não deveriam nem ter tomado a frente da divulgação do disco, muito menos preencher a versão final do mesmo. Algo que não teria acontecido se ela e sua assessoria ouvissem melhor o seu público.

Na tentativa de consertar os erros cometidos no seu último disco, a ex-rainha do pornogospel se aventurou em trazer de volta as características que a levaram ao sucesso em meados de 2014, mas sem ter uma noção certa de qual rumo tomar, acabou se perdendo no meio de quinze faixas, onde sua maior parte se perde em suas próprias composições. 'Krazy' não causou nenhum impacto no público, mas deve causar um definitivo na cantora, que precisa, urgentemente, buscar por uma nova agenciação, enquanto isso, aguardamos amargamente o sucessor do "KARMA".