STATIONCRITIC: Numa noite memorável, Tanusha se mostra experiente em uma situação que jamais se imaginaria vivendo.

Alcançar a aclamação máxima da população do mundo virtual não é uma tarefa fácil, e talvez muitos dos sucessos que ouvimos hoje em dia nem foram planejados para isto. Mas, quando percebemos que existe um material em si que foi feito exatamente para os meios comerciais e atinge o seu êxito, é preciso reconhecê-lo. 

E foi exatamente o que aconteceu com o "Afterglow", da cantora Tanusha. Lançado ainda no finalzinho de 2015, teve o trabalho de trazer o nome de sua intérprete de volta para os holofotes, depois de 2 anos de férias. E o resultado não podia ser outro, o álbum trouxe exatamente tudo o que o público precisava: músicas dançantes, mas, ao mesmo tempo, que fugissem da mesmice que nos foi ingerida por longos e longos anos. 

Passados nove meses desde o lançamento do disco que ficou na boca do povo por longas semanas, e que ainda é bastante lembrado em premiações, podemos fazer uma avaliação técnica sobre ele. O primeiro álbum da cantora Tanusha ficou marcado pela total divergência em comparação ao seu EP de estreia, "Blac Waves", de 2013.

Afterglow retrata as experiências de Tanusha em um clube noturno pela primeira vez depois de sair de um relacionamento sério e duradouro, mas, será que, depois de uma noite tão gloriosa, ela terá fôlego para administrar outras? 

01. Interlúdio
O álbum é aberto pela faixa "Interlúdio", cujo título muito tem a ver com o conceito do material. Interlúdio marca o início da nossa grande noite, onde Tanusha está eufórica por finalmente ter se libertado de seu relacionamento, que, provavelmente, não deve ter sido prazeroso, já que ela se entrega totalmente a pessoa que aparece ao seu lado. A faixa é um abre-alas perfeito, com instrumental marcante, composição bem elaborada e uma produção de alto nível, mas ainda sem muitos truques, para, aos poucos, preparar o ouvinte pelo que vem a seguir. 

02. Movimento (ft. Katrina Prada)
A noitada ainda é uma incógnita para Tanusha, que não tem muita experiência sobre o assunto. A noite está caindo e ela já virou vários drinks até aqui, no entanto, fica alucinada ao ver aquele aglomerado de pessoas dançando e pulando juntas na pista de dança, uns tocando nos corpos dos outros da forma que queriam, cada um curtindo seu momento da maneira que achasse viável e resolve se juntar a tais pessoas, acompanhada de Katrina Prada, que já tem mais noites como essa marcadas em seu currículo. "Estou obcecada por este movimento, capaz de me fazer transpirar, não consigo me manter parada, tão devastadora, tão descontrolada" é o que ela diz, ainda alucinada com a movimentação na pista de dança. O álbum vai aumentando aos poucos e nesta faixa já conseguimos ver mais truques de produção e uma instrumental mais gritante, nos deixando cada vez mais sedentos pelos próximos minutos do disco.

03. Infravermelho
Esta é a favorita do público e, inclusive, recebeu seu merecido videoclipe recentemente. "Infravermelho" é o momento onde Tanusha já se encontra totalmente alucinada devido às bebidas que já tomou e então se interessa por alguém, com quem quer curtir o resto da sua noite, mas avisa que hoje ela não tem limites e vai deixar que seu acompanhante dê as rédeas da situação. "Infravermelho" é realmente o ponto mais alto do disco, apesar da instrumental não ser a mais gritante do material, a produção faz com que ela se torne o momento mais interessante do álbum, cumprindo o trabalho de nos deixar cada vez mais ansiosos pelo que vem depois. "Em seu corpo radioativo, vivo entrando em constante pressão, transbordando calor pelos pulsos, sobrecarregada em alta tensão."

04. Suspirando
Desacelerando um pouco o ritmo, chegamos no primeiro momento da noite em que Tanusha está cansada de tanto dançar e se embebedar, e é a primeira vez onde ela questiona a forma como o seu antigo relacionamento chegou ao fim. Tentando encontrar motivos para tal enfermidade ter acontecido, a cantora revela que não consegue entender o que de fato deu errado, até confessar que idealizou algo mais do que deveria. "Suspirando, encontrando razões. Ofegando, estabelecendo intensões. Procurando, as verdades e mentiras. Delirando, em uma noite tão vazia. Entre a escolha errada, eu vivi mais do que uma mentira, estava presa numa contínua fantasia [...]" Apesar de ser mais lenta que as anteriores, "Suspirando" não deixa o hype do álbum cair e não se torna chata em nenhum momento, sendo até surpreendente em alguns segundos.

05. Afterglow (ft. The Glorious Rhythm)
Chegamos a meia-noite, que é a metade e o ápice da noite ao mesmo tempo. Todos ao redor estão eufóricos na pista de dança, enquanto Tanusha percebe que estas pessoas não fazem exatamente o seu tipo, o que as tornam mais interessantes. Cada um na pista de dança tem a sua insanidade e Tanusha quer conhecer um pouco das loucuras de cada um, e admite que não consegue se libertar da vontade imensa de se satisfazer, que só vai embora quando a noite acabar. "Fui dominada pela noite intensa e não quero que acabe agora, apenas continue e me faça implorar por mais. Nossos jogos tão famintos, estão cada vez mais difíceis". "Afterglow" cumpre o papel de uma faixa-título, de manter o hype do material em alta, mesmo que não seja a melhor canção apresentada do disco.

06. Segundos Intensos
Ainda se recuperando dos efeitos colaterais de tanto álcool ingerido em seu corpo, Tanusha tenta voltar para a pista de dança, porém, desta vez, acompanhada de um novo parceiro, de gênero indefinido, e mostra interesse em descobrir todos os pontos fortes e fracos do seu novo companheiro noturno, e promete fazer daqueles momentos os melhores de sua vida. A instrumental é mais obscura do que o restante do disco, chegando ao seu ápice no refrão, com a produção e a composição casando perfeitamente entre si, sem nenhum defeito para chamar de seu. "Quero transformar toda a sua dor (em segundos tão intensos), em colapso com a atmosfera interior (em segundos tão intensos), dentro de nossos pensamentos (em segundos tão intensos), e se eu te contasse mais uma mentira (em segundos tão intensos) entre as paredes desse quarto fechadas [...]"

07. Entorpecer
Chegamos a mais um momento onde Tanusha se dá um descanso da pista de dança e volta a criticar a sua vida fora dali. Em "Entorpecer" ela percebe que, independente de quantas garrafas virar ou quantas pessoas beijar esta noite, no dia seguinte sua vida vai voltar a ser exatamente como era e confessa que não está pronta para voltar a realidade no momento. A composição da faixa é belíssima e a produção é relativamente simples, visando que a instrumental não pede por muitos truques. "Se talvez aqui fosse real, eu gostaria de viver mais um pouco. Sei que é loucura ter tantos pensamento diferentes, mas, entre todos eles, nada me parece mais convincente".

08. Artifícios (ft. Kanina)
Após o momento de reflexão, Tanusha decide voltar a curtir o resto da noite. Ao lado de Kanina, ela canta sobre a dominação de uma mulher sobre seu parceiro, dizendo que ela pode fazer qualquer tipo de jogo com o companheiro que ele irá obedecê-la e satisfazê-la da forma que ela deseja, enquanto Kanina se mostra mais acessível, dizendo que aceita ser dominada, desde que também receba prazer nessa balança. A faixa se assemelha um pouco a "Movimento" por conta de sua instrumental e a produção com alguns truques, é uma ótima faixa, mas ainda sim não consegue se destacar em meio a tantos outras canções do disco que poderemos chamar de "icônicas" daqui alguns anos.

09. Vertigem
Vertigem é a faixa do álbum que fala sobre a obsessão sexual de um casal e Tanusha conta sobre suas experiências com os jogos sexuais do parceiro e como eles a deixam enfraquecida, mas, mesmo assim, ela ama esta sensação e quer repeti-la mais vezes. A instrumental segura o ritmo de forma essencial, não colocando muitas expectativas na faixa seguinte, mas ao mesmo tempo não desanimando o ouvinte pelo que vem a seguir.

10. Limbo
E então chegamos no que pode ter sido uma das músicas mais memoráveis da história da música virtual. "Limbo" tem uma das letras mais grudentas e ao mesmo tempo mais bem elaboradas de todo o material, com uma instrumental marcante e produção altamente bem feita, ou seja, receita perfeita para o sucesso, não é? Nesta faixa, Tanusha já está se despedindo da boate, que está prestes a fechar, mas ainda há tempo dela curtir seu último momento de prazer com seu companheiro desta noite até a hora de todas as luzes se apagarem e os seguranças colocarem todos para fora. "Sinto o suor escorrendo pelas veias, enquanto você encosta devagar. Submersa sobre meus desejos insanos, estou louca para poder te provocar [...]". Fechando o álbum com chave de ouro, não havia faixa melhor para iniciar a divulgação deste disco que marcaria a história do mundo virtual assim que lançado.

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O "Afterglow" chegou de mansinho, sem muitas promessas (além do clipe de Limbo que demorou 5 meses pra sair), e acabou se tornando uma das melhores coisas que já ouvimos desde que a música virtual existe. Num gênero pouco aproveitado pelos artistas de peso, Tanusha resolveu se arriscar num meio mais comercial, tentando provar que ela sabe manusear qualquer estilo musical brilhantemente, sem deixar decepções. E foi exatamente isso o que ela fez.

Com uma proposta diferente do acostumado, com um conceito mais elaborado para amantes da noite e suas sensações, Tanusha consegue nos trazer um álbum completo, com composições de alto nível, produções elevadíssimas e instrumentais escolhidas a dedo que farão com que a maioria das faixas fiquem marcadas por um longo tempo. E o principal, ela mostra que têm fôlego o suficiente para criar mais centenas de noites iguais a essa, a pergunta que fica é: Será que nós teremos?