STATIONCRITIC: Na controversa tentativa de limpar sua imagem, Vanessa Clark se divide em duas para contar sua história em 'TRØPICO'.

Os artistas do IMpop sempre foram muito subestimados, principalmente quando a plataforma surgiu, lá em 2012, por conta da qualidade inferior da sua videografia e das músicas que não eram a contento. Mas, a plataforma foi crescendo e mais artistas do IMVU foram surgindo e muitos deles trazendo trabalhos que fizessem com que os veteranos da plataforma se esforçassem para superar a sua zona de conforto. E quem adquiriu desta técnica recentemente foi a Vanessa Clark.

No ramo desde 2013, Vanessa estreou no mundo virtual com a música "Faça Agora", do seu álbum de estreia lançado no mesmo ano. E de lá para cá, Vanessa ficou conhecida como a Rainha dos Cabelos Coloridos ou Rainha Teen e, mesmo que tenha feito uma música com este nome, a cantora sempre quis se livrar desta imagem. 

A primeira tentativa de Vanessa de fugir da imagem de sucessora natural da Rainha dos Baixinhos foi com o álbum "Explícita", onde a cantora trazia letras mais sexuais para suas músicas, na esperança de abandonar o rótulo dos cabelos coloridos e adquirir uma imagem mais adulta para sua carreira. Inclusive, apelou para aparecer careca na capa do álbum, na esperança de abandonar de vez a imagem das mechas arco-íris.

Mas, a tentativa fracassou e a cantora decidiu manter sua antiga persona até o final da era, que teve 5 singles. Ao fim do dia, o Explícita só serviu para trazer polêmica, principalmente na parte crítica, que se mostrou dividida em relação ao conteúdo do disco.

Depois do divisor de águas, Vanessa resolveu fazer uma limpa na sua imagem. Abandonou os cifrões no seu nome artístico, começou a aparecer nos Red Carpets com suas madeixas naturais e fugiu um pouco da mídia até as confusões com o seu nome serem contornadas. 

E então, quase dois anos depois do Explícita, Clark volta ao mundo fonográfico com o álbum "TRØPICO", mais uma vez, tentando fugir da imagem teen que foi lhe colocada desde o início de sua carreira. Então surge a pergunta: O que faz com que o TRØPICO cumpra a missão que o Explícita não conseguiu? Descubra ao final da nossa resenha faixa-a-faixa:

01. Livre
O álbum foi dividido em duas partes, sendo elas o "Trópico de Capricórnio" e o "Trópico de Câncer", respectivamente. E a Censurada 2.0 abre a primeira parte do disco. Se você não é conhecedor de Vanessa Clark e não entendeu a comparação, ouça a canção do Explícita e, a seguir, ouça "Livre" e perceba que a mensagem das duas composições são praticamente as mesmas. Enfim, a faixa abre-alas do disco é de fato convidativa pela sua instrumental e pela produção, que deu uma evoluída desde o último material, mas ainda não é algo que se torne surpreendente.


02. Ninfomaníaca
A segunda canção do disco é mais radiofônica do que a primeira, mas ainda não consegue abandonar os rastros do último material. A letra de "Ninfomaníaca" fala sobre uma mulher que gosta de manter sua vida sexual ativa (o que, cá pra nós, foge ao título da canção), o que faz a canção soar como uma descartada do Explícita. Mesmo que a produção de Vanessa esteja mais característica nesta faixa, ainda é difícil ouvir suas canções e não associá-la ao seu último disco.


03. Trópico Colateral
Ainda na vibe radiofônica, temos "Trópico Colateral". Sonoramente, as canções estão evoluindo ao passar do disco, mas em quesito lírico, ainda estão estagnadas no conceito do último disco. 'Trópico Colateral' relata a experiência de Vanessa com um cara que conheceu na balada e rapidamente se apaixonou pelos seus dotes e sua habilidade na cama. É uma letra grudenta, que faz juz a instrumental, talvez seja o ponto alto do disco até agora. 

04. Leve ao Paraíso
"Leve ao Paraíso" traz o tutorial sobre sexo que a canção "Matéria do Sexo" falhou em trazer. Ainda estamos evoluindo sonoramente, mas ainda continuamos estagnados liricamente. Com um forte potencial para single, 'Leve ao Paraíso' tem a instrumental mais radiofônica do material e uma produção bem mais detalhada do que o resto das faixas. Mas, quando presto atenção na letra, ainda tenho a sensação que abri a playlist do Explícita.

05. Artéria
Fugindo da proposta radiofônica, temos a primeira canção que não foi descarta do Explícita. "Artéria" é a declaração de amor que Vanessa canta ao seu amado em meio a uma tempestade, quando ele está prestes a deixá-la. Clark implora para que ele fique mais um pouco, pois tudo o que ela precisa é da sua companhia e do seu calor. Com certeza, é a composição mais diferenciada desta primeira parte do disco, pena que ela se encerra nesta faixa. 

06. Grãos de Areia (ft. Zora Venka)
Abrindo a segunda metade do disco, intitulada de "Trópico de Câncer", temos o grande hit do álbum. "Grãos de Areia" tem uma letra fácil de se gravar, uma instrumental fortíssima e uma produção de Zora Venka, se essa canção não fizesse sucesso seria estranho. A letra fala sobre um casal que é obrigado a se separar por suas famílias, que não aceitam seu romance. Vanessa e Zora cantam a indignação de terem que se afastar do grande amor de sua vida e revelam não saber continuar sua vida sem ele. "Grãos de areia entrelaçados na minha mão, você se despede com um beijo, mas eu grito não. Eu jamais quero sentir de novo essa sensação, perder você mais uma vez foi minha retaliação."

07. Maré Alta, Maré Baixa
Com uma vibe mais indie pop, "Maré Alta, Maré Baixa" é a canção onde Vanessa vai atrás do seu amado, que lhe foi afastado em "Grãos de Areia". A composição da faixa está maravilhosamente sentimentalista e a produção agradável, sem muitos truques e efeitos, para casar com a instrumental que ainda traz um toque meio tropical a canção. "Você é o oceano em que eu deságuo e que sempre quero interver, venha segurar a corrente da onda desse mar, e na maré baixa e alta poder me precaver"  Estamos começando a acertar.

08. Estupidez
Seguindo a vibe indie, a próxima faixa traz a intérprete receosa em seguir em frente depois do provocado fracasso de seu último relacionamento. Ela pede para que seu novo pretendente prove que ele é sincero e que nada irá conseguir estragar o romance dos dois. A instrumental e a produção casam perfeitamente uma com a outra e a composição com rimas rápidas é altamente atraente e relaxante aos ouvidos. "Traga esse cigarro mais uma vez e junto com a fumaça leve embora toda a nossa estupidez, entrelaçados em único beijo. Entendo que o nosso romance teve um pouco de acidez, mas, não me julgue por não te aceitar de primeira, mas você poderia ter sido mais um talvez e eu não estou pronta para isso mais uma vez."

09. Nó na Garganta
A próxima faixa é uma das melhores baladinhas do disco, com uma das melhores instrumentais e composições do mesmo. Aqui, Clark revela que ainda não esqueceu seu antigo amor de "Grãos de Areia" e quando ele volta, fica em dúvida se volta com ele ou continua com seu atual relacionamento, mas confessa que não consegue parar de pensar no amado. "Nó na garganta só ao pensar em você, mãos geladas, isso é o medo de te rever. Queria tocar em seus belos lábios mais uma vez, me sentir segura pela última vez.

10. Lágrimas de Crocodilo
Vanessa decide reatar com seu antigo amor, mas logo se arrepende ao ver que ele não era mais o mesmo do que quando foi embora. Ela esfrega na cara dele todos os sacrifícios que fez para que a relação desse certo, enquanto ele apenas fingia estar interessado e a iludia cada vez mais. A melhor composição do disco acompanhada de uma instrumental forte e uma produção amena, perfeita para seguir o ritmo da faixa. 

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A diferença entre o "TRØPICO" e o "Explícita" está mais clara sonora e liricamente na segunda metade do material, enquanto na primeira ainda encontramos diversos vestígios do último lançamento. A estratégia de dividir o álbum em duas partes foi essencial para que ele não soasse como um disco conturbado, mesmo que ainda pareça confuso encontrar uma ligação entre as duas partes do disco visto que a segunda parte é a única que mostra uma evolução sonora e lírica desde o controverso Explícita. 

Mesmo que Vanessa tenha conseguido se libertar da imagem teen deixada por seus dois últimos discos, a cantora ainda não se mostrou confiante sobre o que ela mesma quer representar. 'TRØPICO' é um disco expressivo e sentimental, mas não traz nada que individualize a imagem de Vanessa no mundo virtual, apenas se transforma num disco de redenção ao seu último material e passa uma borracha na sua imagem teen, a deixando com um lápis e caneta na mão para escrever uma nova.