STATIONCRITIC: 'Intimate' é o livro autobiográfico de Shantel que, surpreendentemente, gostaríamos de ter na prateleira.

O mundo virtual é conhecido por, todos os anos, trazer novos artistas que trilham por uma árdua caminhada até ganhar o mínimo do reconhecimento possível, mas, em meio a tantos artistas bons em destaque todos os anos, sempre existe aquele veterano que passa despercebido nas premiações ao final do ano e, eventualmente, esse artista sempre é a Shantel

Shantel é uma das pioneiras do IMpop, estando no mundo virtual desde 2013, porém, se engana quem pensa que, por esta razão, a cantora tem uma carreira consolidada nos dias de hoje. Martirizada a cada novo lançamento por sua falta de aptidão para produção e a falta de qualidade em suas músicas, a hitmaker de "Cabra Macho" nunca foi um dos nomes preferidos da banca de jurados de qualquer premiação.

Mas, como todo Pokemon evolui, Shantel se jogou de cabeça no planejamento do seu terceiro disco de inéditas e prometeu trazer um álbum que fizesse com que nós perdoássemos todos os erros dos seus anteriores. E, com isso, nasceu o "Intimate", mas não sabemos se ele é digno do nosso perdão, talvez esta resenha nos ajude a chegar a uma conclusão.

01. Metamorfose
A faixa abre-alas do disco também foi o primeiro e único (até o momento) single oficial do mesmo. Numa letra profunda e concreta sobre a passagem da infância até o início da puberdade, a composição de "Metamorfose" usa de elementos implícitos para simbolizar que estamos o tempo todo em processo de mudanças, seja física, mental ou emocional. Uma bela instrumental acompanhada de um violino ao fundo, em alguns momentos, e uma ótima produção que é bem diferente do que estávamos esperando ouvir de Shantel. Começamos bem!

02. Labirinto Mental
Com um sample que pode, facilmente, ser confundido com "Sorry" do Justin Bieber, temos a um pouco menos interessante "Labirinto Mental". Apesar da ótima letra e da qualidade vocal da música estar melhor do que a dos antigos materiais de Shantel, a produção fica a desejar por deixar diversos momentos, que exigiam a voz da cantora por cima, vazios, fazendo com que a música acabe se tornando monótona e chata. Alguns backing vocals ao fundo poderiam facilmente suprir o que ficou faltando e deixaria a faixa um pouco mais agradável. 

03. Menino, Garoto, Homem
A terceira faixa do "Intimate" traz uma ótima letra sobre amadurecimento em cima de uma instrumental que não deixa a letra profunda e melancólica se tornar chata. "Menino, Garoto, Homem" fala sobre as três fases do ser humano enquanto vivo, a infância, fase onde adoramos criar brincadeiras que nos faça parecer adultos; a adolescência, que é a fase onde os hormônios aparecem e achamos que o mundo inteiro está virando contra a nossa existência; e a fase adulta, que é quando as responsabilidades realmente aparecem e nós só gostaríamos de voltar a infância e viver tudo aquilo de novo. A produção da faixa realmente está melhor do que a anterior, mas ainda apresenta alguns erros no preenchimento da timeline, deixando a faixa um pouco inconstante, mas a beleza da composição faz com que isso passe despercebido numa audição despretensiosa. 

04. Fotografias Penduradas Nas Paredes
"Fotografias Penduradas Nas Paredes" é a faixa que tinha tudo para ser o grande ponto do disco, por causa da letra profunda e sentimentalista e a instrumental obscura e tão profunda quanto a letra, mas a inconstante produção de Shantel ainda está a atrapalhando. Desta vez, a timeline está bem preenchida e adequada, porém, a instrumental ficou baixa demais e acabou tornando os momentos em que ela chega em seu ápice se tornarem apenas mornos. Uma atenção maior com os detalhes teria deixado a faixa muito mais interessante.

05. Antídoto
Chegamos a um dos pontos mais altos do disco. "Antídoto" trouxe consigo uma das melhores produções da Shantel até o momento e uma ótima letra sobre o uso de drogas na adolescência, quando os jovens tomam remédios ou injetam substâncias para tentar fugir do mundo onde não se encaixam e se sentirem normais por algum momento. A instrumental de "Antídoto" faz a faixa se tornar mais interessante do que já era e fecha o arranjo com chave de ouro. "Estou vivendo em um local descolorido, enquanto todos dizem que sou especial, mas não me sinto assim. Eu só quero um antídoto que me faça feliz, eu só quero um antídoto que me faça parar de viver assim".

06. Depois da Tempestade
Diminuindo um pouco o ritmo, temos "Depois da Tempestade", a melhor baladinha do álbum. Nesta faixa, Shantel fala sobre as comuns brigas que acontecem na maioria, ou em todas, as famílias e o que elas afetam na relação dentro de casa. Vendo o lado positivo da história, a cantora diz que o tempo é o melhor remédio para controlar a situação e que uma hora tudo irá ficar bem novamente. Uma belíssima letra, a produção equilibrada e uma instrumental profundamente forte formam essa ótima canção, que é um dos pontos fortes do disco. "Dias chuvosos estão por vir, e nós nos separamos. Os ventos sopram, e nos brigamos. Ficamos isolados para não discutir mais. Mas, depois da tempestade um arco-íris irá surgir e tudo voltará a ser como era antes".

07. Segredo (ft. BRANDØN)
Chegamos a primeira e única parceria do álbum. Shantel se uniu ao irmão de Lexie Stone para uma canção que fala sobre aquela fase da adolescência onde queremos descobrir coisas novas e acabamos tomando atitudes precipitadas, a voz de BRANDØN na faixa foi extremamente necessária para facilitar o entendimento sobre o que a letra da música retrata. A produção de Shantel não se demonstrou inconstante nesta faixa, muito pelo contrário, deixou a faixa se tornar uma das mais interessantes do material.

08. Ilusão
Diminuindo o ritmo novamente, temos "Ilusão", que expressa exatamente o que o título da música quer dizer com sua composição. Shantel canta sobre a primeira vez que alguém feriu seu coração profundamente, onde ela achava que tudo estava indo super bem, mas descobriu da pior forma que não era bem assim. Uma instrumental bem forte, a pedido da música e uma produção que se equipara a de "Antídoto", é um dos pontos mais altos do material. "Eu era seu, mas você não era meu. Hoje vejo que era apenas ilusão, uma farsa, uma maldição".

09. Sentimentos à Flor da Pele
Seguindo o disco, temos "Sentimentos à Flor da Pele" que traz uma temática bem hollywoodiana em sua letra. A instrumental tem toques de guitarra ao fundo que acompanham muito bem a composição, que fala sobre o ensino médio e a fase do bullying adolescente, mas, diferente dos filmes de Hollywood, Shantel não é a menina que aguenta calada e chora pelos cantos, ela rebate os insultos e ainda diz para o agressor que ele "não sabe com quem está lidando". É uma faixa estável, mas não chega a ser um destaque do disco. 

10. Emocionalmente Indisponível
"Emocionalmente Indisponível" é a faixa onde Shantel diz "Basta!" depois de sofrer tanto por amor. Esta é a faixa que mais nos aproxima dos últimos materiais da cantora em quesito composição, com os vocais baixos quase passando despercebidos, a faixa deixa de ser um ponto forte do material pelos seus erros de produção. 

11. Veraneio
Chegamos a faixa mais comercial do disco. "Veraneio" é a primeira faixa do álbum que não traz uma letra profunda ou sentimental consigo, trazendo uma temática mais descompromissada, como as férias que Shantel resolve viajar e descansar depois de um ano cheio de decepções e preocupações. A produção da faixa se junta a "Antídoto" e "Ilusão" como as três melhores do material. Daria um ótimo single. 

12. Utopia Virtual
Chegando perto do fim do disco, temos "Utopia Virtual". Essa faixa retrata o início da vida de Shantel no mundo virtual, quando ela resolve entrar neste universo pela primeira vez para fugir dos problemas da vida pessoal e expressa toda a sua gratidão por tudo que fez nesse mundo viciante, e nos convida para entrar nele também, Shantel, querida, estamos todos no mesmo barco. É uma boa faixa, com uma ótima letra, com o único porém da instrumental estar um pouco baixa em alguns momentos, mas não atrapalha muito a audição. 

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Ao final do "Intimate", chegamos a conclusão de que ele realmente é um álbum bem íntimo, que expressa toda a vida de Shantel antes de adentrar ao mundo virtual até o momento em que ela finalmente entra nesta plataforma onde se mantém até os dias de hoje. É como se estivéssemos lendo o livro da adolescência de Shantel, o que pode realmente ter sido a proposta, já que a capa do material realmente se parece com a capa de um livro. 

A produção do álbum realmente surpreende pelo fato de Shantel ter evoluído tão rápido, se parar pra pensar que ele foi lançado pouco antes do seu antecessor, "OH!", completar um ano. Mesmo que ainda tenham muitas coisas a melhorar, é bom reconhecer a dedicação e o esforço que a cantora pôs em cima deste disco e para que tudo ocorresse conforme os seus planejamentos. Para concluir, só tenho mais uma coisa a dizer: Shantel, está perdoada, por hora!